Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros
E em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.
Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alva dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.
Ó vós, homens iluminados a neon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem amais e vos julgais perfeitos
E vos ciliciais à idéia do que é bom.
Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos julgais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade,
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.
Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vedes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.
Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.
Ó vós que vos negais à escuridão dos bares
Onde o homem que ama oculta o seu segredo
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.
Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.
Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.
Ó vós, falsos Catões, chichibéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensais que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.
Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o homem alheio é a melhor iguaria.
Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra…
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.
(Vinícius de Moraes)
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Pequeno perfil de um cidadão comum (Belchior)
Era um cidadão comum como esses que se vê na rua
Falava de negócios, ria, via show de mulher nua
Vivia o dia e não o sol, a noite e não a lua (d.)
Acordava sempre cedo (era um passarinho urbano)
Embarcava no metrô, o nosso metropolitano...
Era um homem de bons modos:
"Com licença; - Foi engano"
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que caminha para a morte pensando em vencer na vida
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que tem no fim da tarde a sensação
Da missão cumprida (d.)
Acreditava em Deus e em outras coisas invisíveis
Dizia sempre sim aos seus senhores infalíveis
Pois é; tendo dinheiro não há coisas impossíveis (d.)
Mas o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo)
Desceu do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto
E a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto
-Que a terra lhe seja leve
Falava de negócios, ria, via show de mulher nua
Vivia o dia e não o sol, a noite e não a lua (d.)
Acordava sempre cedo (era um passarinho urbano)
Embarcava no metrô, o nosso metropolitano...
Era um homem de bons modos:
"Com licença; - Foi engano"
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que caminha para a morte pensando em vencer na vida
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que tem no fim da tarde a sensação
Da missão cumprida (d.)
Acreditava em Deus e em outras coisas invisíveis
Dizia sempre sim aos seus senhores infalíveis
Pois é; tendo dinheiro não há coisas impossíveis (d.)
Mas o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo)
Desceu do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto
E a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto
-Que a terra lhe seja leve
domingo, 13 de dezembro de 2009
Cactus
na multidão
me dou a chance de
de repente explodir um olhar
mais quente, um resgate
de cada corpo anônimo,
para qualquer momento
o açude se fazendo rio
a dança de todos reiniciando
como se ser estático
ser robô produtivo e ser zumbi
fosse apenas uma brincadeira
levada à sério demais
e quando isso demora mais
do que a minha esperança deseja
me planto de propósito
no meio da multidão,
otimista como um cactus
(Ulisses Tavares - O eu entre nós)
me dou a chance de
de repente explodir um olhar
mais quente, um resgate
de cada corpo anônimo,
para qualquer momento
o açude se fazendo rio
a dança de todos reiniciando
como se ser estático
ser robô produtivo e ser zumbi
fosse apenas uma brincadeira
levada à sério demais
e quando isso demora mais
do que a minha esperança deseja
me planto de propósito
no meio da multidão,
otimista como um cactus
(Ulisses Tavares - O eu entre nós)
Easy Rider - Sem Destino
"Eles não têm medo de vocês, mas do que vocês representam."
"Cara, pra eles só representamos alguém que devia cortar o cabelo."
"Não. Pra eles vocês representam A LIBERDADE."
"E qual o problema? Liberdade é legal."
"É verdade. Só que FALAR dela e VIVÊ-LA são duas coisas diferentes. É DIFÍCIL SER LIVRE QUANDO SE É COMPRADO E VENDIDO NO MERCADO. Mas NUNCA diga a alguém que ele não é livre, porque esse alguém vai tratar de matar e aleijar pra provar que é livre. Eles falam sem parar de liberdade individual, mas quando vêem um indivíduo livre, ficam com MEDO."
"Eu não boto ninguém pra correr de medo..."
"Não. Você é quem corre perigo."
"Cara, pra eles só representamos alguém que devia cortar o cabelo."
"Não. Pra eles vocês representam A LIBERDADE."
"E qual o problema? Liberdade é legal."
"É verdade. Só que FALAR dela e VIVÊ-LA são duas coisas diferentes. É DIFÍCIL SER LIVRE QUANDO SE É COMPRADO E VENDIDO NO MERCADO. Mas NUNCA diga a alguém que ele não é livre, porque esse alguém vai tratar de matar e aleijar pra provar que é livre. Eles falam sem parar de liberdade individual, mas quando vêem um indivíduo livre, ficam com MEDO."
"Eu não boto ninguém pra correr de medo..."
"Não. Você é quem corre perigo."
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