terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Carta aos "Puros"
E em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.
Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alva dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.
Ó vós, homens iluminados a neon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem amais e vos julgais perfeitos
E vos ciliciais à idéia do que é bom.
Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos julgais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade,
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.
Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vedes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.
Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.
Ó vós que vos negais à escuridão dos bares
Onde o homem que ama oculta o seu segredo
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.
Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.
Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.
Ó vós, falsos Catões, chichibéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensais que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.
Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o homem alheio é a melhor iguaria.
Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra…
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.
(Vinícius de Moraes)
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Pequeno perfil de um cidadão comum (Belchior)
Falava de negócios, ria, via show de mulher nua
Vivia o dia e não o sol, a noite e não a lua (d.)
Acordava sempre cedo (era um passarinho urbano)
Embarcava no metrô, o nosso metropolitano...
Era um homem de bons modos:
"Com licença; - Foi engano"
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que caminha para a morte pensando em vencer na vida
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que tem no fim da tarde a sensação
Da missão cumprida (d.)
Acreditava em Deus e em outras coisas invisíveis
Dizia sempre sim aos seus senhores infalíveis
Pois é; tendo dinheiro não há coisas impossíveis (d.)
Mas o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo)
Desceu do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto
E a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto
-Que a terra lhe seja leve
domingo, 13 de dezembro de 2009
Cactus
me dou a chance de
de repente explodir um olhar
mais quente, um resgate
de cada corpo anônimo,
para qualquer momento
o açude se fazendo rio
a dança de todos reiniciando
como se ser estático
ser robô produtivo e ser zumbi
fosse apenas uma brincadeira
levada à sério demais
e quando isso demora mais
do que a minha esperança deseja
me planto de propósito
no meio da multidão,
otimista como um cactus
(Ulisses Tavares - O eu entre nós)
Easy Rider - Sem Destino
"Cara, pra eles só representamos alguém que devia cortar o cabelo."
"Não. Pra eles vocês representam A LIBERDADE."
"E qual o problema? Liberdade é legal."
"É verdade. Só que FALAR dela e VIVÊ-LA são duas coisas diferentes. É DIFÍCIL SER LIVRE QUANDO SE É COMPRADO E VENDIDO NO MERCADO. Mas NUNCA diga a alguém que ele não é livre, porque esse alguém vai tratar de matar e aleijar pra provar que é livre. Eles falam sem parar de liberdade individual, mas quando vêem um indivíduo livre, ficam com MEDO."
"Eu não boto ninguém pra correr de medo..."
"Não. Você é quem corre perigo."
domingo, 29 de novembro de 2009
A Genialidade da Multidão
violência,
Absurdo no ser humano comum
Para suprir qualquer exército em qualquer dia.
E O Melhor No Assassinato São Aqueles
Que Pregam Contra Ele.
E O Melhor No Ódio São Aqueles
Que Pregam AMOR
E O MELHOR NA GUERRA
–FINALMENTE–SÃO AQUELES QUE
PREGAM
PAZ
Aqueles Que Pregam DEUS
PRECISAM de Deus
Aqueles Que Pregam PAZ
Não têm paz.
AQUELES QUE PREGAM AMOR
NÃO TÊM AMOR
CUIDADO COM OS PREGADORES
Cuidados com os Sabedores.
Cuidado
Com Aqueles Que
Estão SEMPRE
LENDO
LIVROS
Cuidado Com Aqueles Que Detestam
Pobreza Ou Que São Orgulhosos Dela
CUIDADO Com Aqueles Que Elogiam Fácil
Porque Eles Precisam De ELOGIOS De Volta
CUIDADO Com Aqueles Que Censuram Fácil
Eles Têm Medo Daquilo Que Não Conhecem
Cuidado Com Aqueles Que Procuram Constantes Multidões; Eles Não São Nada Sozinhos
Cuidado
Com O Homem Comum
Com A Mulher Comum
CUIDADO Com O Amor Deles
O Amor Deles É Comum, Procura O Comum
Mas Há Genialidade Em Seu Ódio
Há Bastante Genialidade Em Seu
Ódio Para Matar Você, Para Matar
Qualquer Um.
Sem Esperar Solidão
Sem Entender Solidão
Eles Tentarão Destruir
Qualquer Coisa
Que Seja Diferente
Deles Mesmos
Incapazes
De Criar Arte
Eles Não Irão
Compreender Arte
Eles Vão Considerar Sua Falha
Como Criadores
Apenas Como Uma Falha
Do Mundo
Incapazes De Amar Completamente
Eles Vão ACREDITAR Que Seu Amor É
Incompleto
E ELES VÃO ODIAR
VOCÊ
E Seu Ódio Será Perfeito
Como Um Diamante Brilhante
Como Uma Faca
Como Uma Montanha
COMO UM TIGRE
COMO Cicuta
Sua Mais Fina
ARTE
(Charles Bukowski)
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
“Grupo Baader-Meinhof” e a “Festa do Balanço Geral” (ou Sinais de Barbárie Próxima)
Um pouco de história. As elites vergaram a espinha da população pobre durante, muito tempo. O povo ficou humilde, dócil, paciente demais. A geração da televisão, internet e crack é mais rápida, e parecem ter, mesmo que vaga, uma noção de onde tudo isso veio. Não se submetem aos pais, cospem na cara deles sua fraqueza. O criminoso tem energia, atitude, não é um bunda-mole.
Pela rua
tantos rostos
tantas cruzes
de longe
todo mundo é igual
mar de gente
indo e vindo
ondas de pensamento
cada um com seus problemas
vida passando
correndo
mar de gente
um
mais um
mais um e mais um
tantos e quantos
parei aqui pra pensar
mas o que que era mesmo?
Nada de mais
Anticivilização
Mas não é isso que se quer.
Queremos uma espécie de recreação para crianças e adolescentes dos 6 aos 17 anos de idade. Queremos decoreba, cola, avaliações que nada avaliam. Queremos salas cheias, com 50 alunos, e que eles permaneçam lá 200 dias por ano A QUALQUER CUSTO presos em suas cadeiras. Queremos mantê-los mínima e mediocremente ocupados, apenas para que não fiquem nas ruas. Como recurso, um giz e um quadro-negro, um professor cansado e sem voz, no terceiro turno de trabalho. Queremos preparar massas indisciplinadas para formar um gigantesco exército de reserva, esperando uma vaga para apertar botões, embalar mercadorias, atender telefones, limpar banheiros e parabrisas, encher tanques, varrer o chão, juntar latinhas, adestrar cães. E assim, ninguém pode dizer que este ou aquele governo não cumpre com suas obrigações legais. Eles “dão” educação. A questão é de que tipo, mas essa pergunta ninguém se faz. E a cota do professor? Ah, sim, pois bem, ele é sim, responsável, ele é parte disso. Mas não muito. Muitos são pobres coitados que mal conseguiram completar a metade de seu curso, que mal conhecem as disciplinas que tentarão em vão ensinar. “We don´t need this education”. E só.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Quem morre?
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.
terça-feira, 21 de julho de 2009
As escolas invisíveis
Perguntam os meus patrícios por que razão eu viajo tanto para o Brasil. E eu explico. Se comparadas ao Brasil, as escolas européias dispõem de melhores recursos. Porém, acumulam-se as teses sobre o mal-estar docente, sem que se vislumbre a cura para a maleita dos professores. As escolas do "primeiro mundo" converteram-se ao mundo digital, mas mantêm e reforçam práticas de ensino obsoletas. (...) Há, no Brasil, muitos professores que dão sentido às suas vidas dando sentido à vida das crianças e das escolas. Sinto-me um privilegiado por encontrar no Brasil tanta generosidade e responsável ousadia. Em cada viagem, junto mais uma ou duas novas escolas ao já extenso rol. No extremo norte do país, um colégio busca a forma ideal de escola que dê a todos garantias do exercício da cidadania e da realização pessoal. Num hospital do Sul, uma equipe de professores, técnicos de serviço social, animadores e voluntários suavizam os dias de crianças doentes. Num lugarejo perdido no Nordeste, a fé pedagógica faz milagres e produz um ensino que faria inveja a muito colégio (dito) de elite. Junto ao mar de Santa Catarina, crescem as paredes de uma escola sem paredes, que concretizará o sonho de um pequeno grupo de educadores.Em São Paulo, um jardim-de-infância feito à medida da criança comove o visitante mais insensível. Na periferia da metrópole, professores e pais juntam-se a amigos e pesquisadores para dar forma a um projecto que transformou "sala de aula" em "espaço de estudo". No Rio de Janeiro, os sonhos de uma escola ganham forma, fazendo das crianças pessoas mais sábias e felizes. Sob o "mar de Minas", uma mulher empenha-se na humanização de uma academia de polícia. Um dos obstáculos à mudança nas escolas é o predomínio de uma cultura pessoal e profissional dos professores, que os convida à acomodação. (...) Assim como certas teorias e pedagogos permanecem invisíveis, também são invisíveis certas escolas. (...) O Brasil desconhece o que tem de melhor. Uma reforma silenciosa, marginal, está acontecendo por aí. Os professores que habitam as escolas invisíveis não recebem reconhecimento público. Por vezes, recebem injustiça, mas dão lições de resiliência. São mal-remunerados, mas não usam o baixo salário como álibi. Não auferem de benefícios nem aspiram à celebridade. Fazem milagres com os recursos de que dispõem, que o Brasil não é pobre em recursos humanos, ele desperdiça recursos. Os educadores anônimos que habitam as escolas invisíveis tecem uma rede de fraternidade. Geram esperança, neste Brasil condenado a acreditar que, pela educação, há-de chegar a uma cidadania plena."
sábado, 27 de junho de 2009
sábado, 20 de junho de 2009
Encontro marcado com o outro
segunda-feira, 13 de abril de 2009
" Em 1868, no dia 14 de março, às duas horas da madrugada, em consequência da predileção que tem pelas jogadas de mau gosto e também para completar a quantidade de absurdos que tem cometido em diversas épocas, a natureza fez com que eu nascesse. Apesar da importância do acontecimento, não conservo dele nenhuma recordação pessoal; minha avó contou que logo que recebi o espírito humano, dei um grito.Tenho certeza que foi um grito de indignação e de protesto". Máximo Górki
domingo, 22 de março de 2009
Apenas um dia perfeito
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Democracia à brasileira
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Noites do Brasil

A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte...É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Caetano X Chico

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Dura na queda (Ela desatinou nº2)
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do Carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural
Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade sim
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas
Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir
Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas