No dia que a gente quiser ter educação de verdade vamos ter escolas menos parecidas com presídios, salas de aula com menos alunos por turma, equipamentos pedagógicos adequados, profissionais bem formados e com tempo para preparar atividades, podendo avaliar satisfatoriamente o desempenho dos alunos. Formaríamos pessoas com sentido de cidadania, politizadas, críticas, providas de senso ético e estético desenvolvidos, dotadas das ferramentas mentais e emocionais básicas para fazer escolhas e se guiar satisfatoriamente vida afora. Tão aptas a fazer escolhas, que poderiam até, no final das contas, chegar muito perto de uma vida “feliz”.
Mas não é isso que queremos. Queremos uma espécie de recreação para crianças e adolescentes dos 6 aos 17 anos de idade. Queremos decoreba, cola, avaliações que nada avaliam. Queremos salas cheias, com 50 alunos, e que eles permaneçam lá 200 dias por ano A QUALQUER CUSTO presos em suas cadeiras. Queremos mantê-los mínima e mediocremente ocupados, apenas para que não fiquem nas ruas. Como recurso, um giz e um quadro-negro, um professor cansado e sem voz, no terceiro turno de trabalho. Queremos preparar massas indisciplinadas para formar um gigantesco exército de reserva, esperando uma vaga para apertar botões, embalar mercadorias, atender telefones, limpar banheiros e parabrisas, encher tanques, varrer o chão, juntar latinhas, adestrar cães, enfim, receber baixíssimos salários, cidadãos de segunda categoria. Assim, quanto aos “governos”, ninguém pode dizer que não cumpriram suas obrigações legais. Eles “dão” educação. Ninguém se pergunta se a questão é “de que tipo”. E a cota do professor? Ah, sim, ele também é responsável. Mas não muito. Muitos são pobres coitados que mal conseguiram completar a metade de seu curso, que mal conhecem as disciplinas que tentarão em vão ensinar. O “coitadismo” está disseminado entre a classe e é abominável, inútil. Muitos professores entram na sala de aula com a autoestima na sola do sapato, como gado entrando no brete, omissos. “We don´t need this education”. Ninguém precisa. Mas é essa a educação que queremos. E só.
sábado, 23 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Muito barulho ao redor (Pedro Juan Gutiérrez)
Sirvo um pouco de rum em dois copos. Penso que ninguém tem necessidade de pornografia. Precisamos de amor verdadeiro. E também precisamos de um pouco de espírito e religião e filosofia. Mas tudo isso exige tempo e silêncio e reflexão. Por isso a gente se perde. Por avançar rápido demais, com muito barulho em volta. O barulho entra em nós e então começamos a agir compulsivamente, sem refletir.
(Trilogia Suja de Havana)
(Trilogia Suja de Havana)
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A flor e a náusea (Drummond)
Preso à minha classe e a algumas roupas
Vou de branco pela rua cinzenta
Melancolias, mercadorias espreitam-me
Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre
Não, o tempo não chegou de completa justiça
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera
O tempo pobre, o poeta pobrefundem-se no mesmo impasse
Em vão me tento explicar, os muros são surdos
Sob a pele das palavras há cifras e códigos
O sol consola os doentes e não os renova
As coisas
Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase
Vomitar esse tédio sobre a cidade
Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado
Nenhuma carta escrita nem recebida
Todos os homens voltam para casa
Estão menos livres mas levam jornaise soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi
Alguns achei belos, foram publicados
Crimes suaves, que ajudam a viver
Ração diária de erro, distribuída em casa
Os ferozes padeiros do mal.Os ferozes leiteiros do mal
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim
Ao menino de 1918 chamavam anarquista
Porém meu ódio é o melhor de mim
Com ele me salvoe dou a poucos uma esperança mínima
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
garanto que uma flor nasceu
Sua cor não se percebe
Suas pétalas não se abrem
Seu nome não está nos livros
É feia. Mas é realmente uma flor
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico
É feia, mas é uma flor
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Vou de branco pela rua cinzenta
Melancolias, mercadorias espreitam-me
Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre
Não, o tempo não chegou de completa justiça
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera
O tempo pobre, o poeta pobrefundem-se no mesmo impasse
Em vão me tento explicar, os muros são surdos
Sob a pele das palavras há cifras e códigos
O sol consola os doentes e não os renova
As coisas
Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase
Vomitar esse tédio sobre a cidade
Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado
Nenhuma carta escrita nem recebida
Todos os homens voltam para casa
Estão menos livres mas levam jornaise soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi
Alguns achei belos, foram publicados
Crimes suaves, que ajudam a viver
Ração diária de erro, distribuída em casa
Os ferozes padeiros do mal.Os ferozes leiteiros do mal
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim
Ao menino de 1918 chamavam anarquista
Porém meu ódio é o melhor de mim
Com ele me salvoe dou a poucos uma esperança mínima
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
garanto que uma flor nasceu
Sua cor não se percebe
Suas pétalas não se abrem
Seu nome não está nos livros
É feia. Mas é realmente uma flor
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico
É feia, mas é uma flor
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
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