Preso à minha classe e a algumas roupas
Vou de branco pela rua cinzenta
Melancolias, mercadorias espreitam-me
Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre
Não, o tempo não chegou de completa justiça
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera
O tempo pobre, o poeta pobrefundem-se no mesmo impasse
Em vão me tento explicar, os muros são surdos
Sob a pele das palavras há cifras e códigos
O sol consola os doentes e não os renova
As coisas
Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase
Vomitar esse tédio sobre a cidade
Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado
Nenhuma carta escrita nem recebida
Todos os homens voltam para casa
Estão menos livres mas levam jornaise soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi
Alguns achei belos, foram publicados
Crimes suaves, que ajudam a viver
Ração diária de erro, distribuída em casa
Os ferozes padeiros do mal.Os ferozes leiteiros do mal
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim
Ao menino de 1918 chamavam anarquista
Porém meu ódio é o melhor de mim
Com ele me salvoe dou a poucos uma esperança mínima
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
garanto que uma flor nasceu
Sua cor não se percebe
Suas pétalas não se abrem
Seu nome não está nos livros
É feia. Mas é realmente uma flor
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico
É feia, mas é uma flor
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
"sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura"
Sempre que eu passava pelo centrão do Rio eu lembrava esses versos. Grande escolha, mano!
Quando leio esse poema me vem na cabeça a Praça XV, em frente ao Mercado Público de Porto. Quando leio esse poema acabo me lembrando de ti, cara, cara, que me apresentou-o pela primeira vez. Valeu.
Postar um comentário