quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Z de aziago

Duas toneladas de fardo sobre as costas e nenhuma dor. Que tipo de sanidade é essa? As roupas puídas, o tênis rasgado, ossos salientes na cara, só os meus olhos são fortes em mim, e põem medo ou susto nos outros. Não sei o que me matará primeiro, doença, cansaço, fome ou a pura e simples desistência. Mas sinto a minha força mais forte justamente aí (o nome disso é raiva). As pessoas na rua, permanentemente sem assunto, me olham e riem. Têm medo de tudo. Não sabem do esforço que concentro no abdomem para não regurgitar em violência. Jamais matei alguém, e poderia já tê-lo feito muitas vezes, e disso só eu sei. Ando assim na rua, alarmando os caixas da padaria e da farmácia e vigiado sempre pela viatura, e no entanto só penso em livros, filosofia, arte e mulher. Talvez compre uma arma um dia desses e passe nesses lugares, só pra lhes dar razão. Talvez não.

Quanto de hostilidade aderiu à superfície do meu olho e ao muco de minhas narinas, ao meu esperma e à minha bílis, aos músculos do meu maxilar e do abdômem nos últimos dez, quinze anos?
Fui obrigado a mudar do que eu era, me tornei mais seco, áspero, e mais ainda preciso fazer em diante aos vinte e cinco anos de idade.

E manter as putas em recantos do centro, em prédios sujos cheios de ratos, para que os pobres que trabalham em suas empresas, cuidam de suas casas, carros, das suas mulheres e filhos, do seu dinheiro, da sua comida e dos seus drinques, enfiem seus pênis igualmente sujos em suas vaginas esgaçadas como bocas, e atinjam assim um êxtase mesmo que misturado com agonia, deixando tensão/frustração naqueles recipientes assim denominados antes de tomarem seus ônibus para casa, sem fazer nenhuma bobagem, sem fazer nenhum alarde, sem dar tiro em ninguém numa esquina escura de um bairro nobre.

5 comentários:

Juliana Ben disse...

Um soco no estômago. Violento e verossível. Vida e arte. Gosto.

Juliana Ben disse...

verossímel. eu quis dizer.

Maira Dilli disse...

Talves esteja meio confuso o texto. Não sei muito bem fazer isso, avaliar a forma. Sei melhor sentir. O conteúdo é forte e me agrada. Muito.
Maira.

Anônimo disse...

Agora eu não pago mais nada. Apenas cobro, por isso eu sou o cobrador.

Maira Dilli disse...

Gostei da foto. É uma foto; é de Porto?